TÂMARA SOBREIRA

Artesã, erveira, educadora popular em saúde, terapeuta integrativa, bacharel em odontologia, especialista em saúde da família, especialista em promoção e vigilância em saúde, mestranda em Saúde Coletiva.


EU SOU SEIVA

Nós da Seiva acreditamos no respeito à vida e sua maravilhosa diversidade. Nossa proposta é promover saúde e autocuidado através de vivências terapêuticas, práticas integrativas e do uso consciente de produtos naturais biodegradáveis.



O universo das Alquimias, das bruxarias sempre me gerou encantamento.
Quando criança sumos de plantas viravam elixis, porções, magias.


A Seiva surgiu da curiosidade em misturar elementos, cheiros e afetos.
Hoje a curiosidade de uma criança se transforma na ação de uma mulher.
Acolho com muito carinho, responsabilidade e respeito este lugar.


Enquanto mulher e ser brincante venho construindo minha caminhada junto a educação popular em saúde, pondo em perspectiva a cultura e a arte como manifestações de saúde e de vida.

História da Seiva

A seiva surgiu inicialmente de uma inquietação, de um momento existencial em que fui provocada a me repensar em muitos aspectos, a refletir sobre o meu corpo político, sobre meus consumos, usos e abusos.

Nessa efervescência de processos, eu deixei de consumir carne  dentre tantos outras alimentos ultraprocessados. Deixei de consumir produtos de muitas marcas, de alimentar grandes corporações que engendram desigualdades sociais em escala global. Em meio a esse turbilhão de reelaborações, refleti sobre os cosméticos que utilizava.


Em sempre tive um nariz muito curioso, farejador, e os cosméticos, assim como os alimentos, são esses suprassumos de cheiros e texturas.

Eu amo comer e alimentar a minha pele e corpo. Então eu utilizava muitos cosméticos.

Daí, nesse processo de investigação sobre a composição dos cosméticos que eu utilizava, das marcas mais tradicionais que todo mundo tem em casa, vi que diariamente eu estava incorporando substâncias tóxicas ao meu corpo. Somado a isso todas essas empresas realizavam (realizam) teste em animais para determinar se esse uso é seguro no corpo humano assim como a extração desses insumos muitas vezes está associada a sistemas extrativistas que exploram trabalhadores (as) de comunidades tradicionais que vivem em territórios que deveriam estar sendo protegidos pelo Estado.

Realmente caiu a ficha de que não queria mais me envenenar tão pouco corroborar com essa cadeia predatória.

Dai comecei a ler sobre cosméticos naturais e investigar meu processo de autonomia.  Durante essa fase eu estava nos últimos período da faculdade de odontologia. Pensar sobre as recomendações que ouvi todos aqueles anos sobre o flúor, e me deparar com outras concepções científicas sobre os riscos do seu uso a longo prazo e superdosagens, me deixou em parafuso.

Felizmente, uma amiga que já produzia cosméticos naturais há alguns anos me presenteou não só com o seu creme dental mas me ensinou sua receita.

Nossa, pense num dia feliz. O cheiro que exalava dentro de casa do óleo essencial de hortelã e do hidrolato de sálvia... Aiii, bom demais.  Nesse dia eu entendi que fazer cosmético é igual fazer comida. Ambos alimentam o nosso corpo só que por vias diferentes. Desde então, a mais ou menos 7 anos, eu produzo meu próprio creme dental.


Mudei de formulas várias vezes, bota um ingrediente, tira outro, meche ali, meche aculá sempre na tentativa e no desejo de incorporar ingredientes próximos a nós como o juá.

Todo mundo ficou muito curioso querendo provar. Quem provava ficava besta com a delícia que é um creme dental natural.

A partir dai comecei a produzir e presentear amigues, investigar e me arriscar na produção de outros produtos.


Quando fui ao Capão na chapada diamantina no ano seguinte, vi um movimento muito forte de mulheres produzindo biocosméticos, comercializando e a pautando a discussão sobre fitocosmetologia. Fiquei maravilhada e desejosa de botar pra frente um projeto assim também.


O nome seiva me veio em sonho, nas minhas reflexões oníricas sobre alimentos viscerais. A seiva é isso. Esse fluido, essa matriz que alimenta, movimenta, enraiza e brota. A seiva é vida. é amor. é respeito. coletividade.

A babosa, seu símbolo de força acolhedora, curativa, alimentos de resistência e presença. Babosa, é fluido, é água, é alimento, é vida.


Nutrida de muita força de tantas mulheres, mergulhada em energia transformadora junto as organizações e coletivos feministas de Garanhuns, a seiva surge em meio ao 8 de março em Garanhuns, data símbolo de resistência de nos mulheres aos tantos processos de violências que nos atravessam.


A cada 8 de março celebramos mais um ciclo da seiva e sobretudo a luta e resistência de nós mulheres.


Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!