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Você vê meios de reavivar as brincadeiras como coisa séria (séria no sentido de ser tão importante esse ser brincante para vida humana) levar pra cidade, propostas de liberação dos corpos?

É mais que coisa séria. Não dialogar com um pedido de criança repercute em um adulto problemático, muitos adultos problemáticos = sistema burocrático, caminho para o colpaso, aprisionamento do inexistente.

Mesmo adultas é a criança quem assume o controle, quem cultiva a possibilidade de plantar uma nova cidade, de ser comunidade.

Como "plantar uma nova cidade" sem ter acesso à rua e à própria cidade?

Se soubesse, não usava palavras. A falta de acesso é a fertilidade: a necessidade de expandir para outras direções, olha a gente aqui, novas atitudes no bolso, transitar conhecimentos, escutar novas margens, abrir novas janelas, aprender com outras existências, escrever é jogar semente e ler é adubar ~ que cidade você planta? é na conversa se floresta.

Você ainda acredita numa vida longe das florestas?

Possa ter até quem viva, mas sem floresta a gente, eu e tu não existimos.

Já não é por falta de dados que a ignorancia com ganância do xorume que ostenta o poder do AGRONEGÓCIO, insiste definir qualidade de vida de acordo com o lucro de uma branca minoria.

Até do ponto de vista do capitalista, existem outros negócios mais rentáveis.

Tengamos entendido, o agro não é pop, agro da golpe, envenena, mau paga imposto, fomenta a desigualdade, agro é tóxico, é monocultura, não discute aquecimento climático, crise hídrica e desertificação, excluem os povos originários, derruba floresta, o agro mata.

Se dou volta na pergunta é porque ela me leva a uma necessidade mas allá de uma utopia, da gente ser agente de nossas próprias vidas,  entender nosso território, a Terra, como um organismo vivo no qual inter-relacionamos. 

Nesse exato momento alguma espécie acaba de entrar em extinção, um pedaço da nossa existência, de nossa música, a ecomusicalidade que se deforma, perda de biodiversidade e ainda não conseguimos sentir como isso nos afeta.

Queria ouvir mais sobre a ecomusicalidade.

"não há pássaros, insetos, bichos ou sons de qualquer tipo de vida. Monocultura são verdadeiros desertos […] quanto mais biodiversidade, mas densa é a sinfonia em uma floresta" Jorgge Menna, sobre a obra Restauro da 32 Bienal de São Paulo, entrevista concedida à jornalista Marília Miragaia em agosto 2016.

Ecomusicalidade é um termo discutido dentro do Acorde a Floresta. Grupo de diálogos e práticas sobre sistemas agroflorestais musicais, o cultivo da paisagem sonora como forma de vivência. A diversidade em sua narrativa, cada corpo conta uma história e no coletivo a gente se lê.

Em "Acorde a floresta"tem um jogo de palavras em "acorde"?
O verbo acordar e o acorde musical.

André Arribas foi quem trouxe o termo para o grupo, foi como encontrar uma clareira na floresta da qual resolvemos nos assentar. 

Estávamos fazendo pequenos mutirões, um cultivo coletivo,  pessoas com suas iniciativas, na ideia de alimentar um SAF Cultural, um SAFEcomusical, aprendendo e plantando espécies diversas utilizadas nas brincadeiras da cultura popular, espécies sonoras, vivênciando a mata, despertando para as práticas artísticas como forma de encontro, de celebração, a música sociedade~ambiente, a música em todo o ciclo. Agroecologia a saúde e as artes em uma mesma sinfonia.


Quais os seus desejos para o projeto 'acorde a floresta' até o fim desses encontros?

Que os encontros sigam expandindo nossos pensamentos. Que possamos plantar atitudes coletivando sementes. O mutirão como como ferramenta de transformação social e que a música da floresta seja alimento de nossas celebrações. O fim como um novo começo.

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Mark